10 de janeiro de 2015

Mil Vezes Boa Noite (Erik Poppe, 2013)

Meryl Streep pode ser a escolha unânime quando se fala na melhor atriz da atualidade, mas não há como concordar piamente após assistir performances de atrizes francesas, em especial Juliette Binoche. Em Acima das Nuvens (Clouds of Sils Maria, 2014), próximo lançamento da atriz no Brasil, a francesa traz nuances à sua performance que refletem uma personagem que não está preparada para aceitar o tempo e a idade, e o mesmo é um dos temas de Mil Vezes Boa Noite (A Thousand Times Good Night, 2013).

Rebecca (Binoche) é uma das mais renomadas fotógrafas de guerra da atualidade. Acostumada a se arriscar em terrenos de disputa, tudo muda após acompanhar os preparativos de uma mulher-bomba. Acabando acidentada, ela coloca sua família em pânico. É quando seu marido, um biólogo interpretado pro Nikolaj Coster-Waldau, lhe dá um ultimato para retomar a vida longe da instabilidade ou eles se separarão.

Dirigido pelo sueco Erik Poppe, do elogiado Hawaii, Oslo (2004), Mil Vez Boa Noite é um filme no máximo correto. Sem expandir questões políticas ou vivências passadas da própria personagem, Poppe opta por retratar uma Rebecca impulsionada pela sede de mudanças nas desigualdades que se encontram no mundo. Longe de uma visão pollyanesca que pode modificar o mundo e torná-lo mais feliz, a personagem encontra na sua profissão uma causa, ser uma informante dos acontecimentos que ocorrem pelo mundo e assim conscientizar os outros. Mesmo com o tempo e a idade indo de encontro à Rebecca, afinal ela é uma matriarca, precisa assumir responsabilidades e zelar pela sua segurança própria pelo bem de sua família, ela enxerga de outra forma.

O diretor ainda coloca a personagem em situação delicada com a sua filha mais velha, havendo aí uma necessidade de reconstrução de uma relação enfraquecida pelo trabalho e pelas guerras. Binoche segura de forma excepcional, como sempre, em uma produção sem grandes pontos de virada e que se mantém exatamente nisso, na vontade e nos ideais de uma grande mulher. O que já é bem suficiente.

Publicado originalmente na edição #12 do Zinematógrafo de Porto Alegre/RS.

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